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Produtores rurais da região do Serro reclamam do IEF
Por: 01 de Junho de 2005 em: Notícias

Multas abusivas, proibição de desmatamento para plantio de alimentos, apreensão de caminhões carregados de carvão e truculência dos fiscais e da Polícia Florestal contra trabalhadores de carvoarias. Essas foram as principais queixas de moradores dos municípios da região do Serro trazidas aos deputados da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social, em audiência pública realizada no auditório da Assembléia Legislativa.

Pedida pelo deputado Alencar da Silveira Jr, (PDT), que preside a comissão, a reunião teve a participação dos prefeitos de Rio Vermelho, Serro, Serra Azul de Minas e Santo Antônio do Itambé, além de donos de carvoarias, sindicalistas, e dos representantes do IEF e do Ministério Público. Alencar da Silveira Jr. abriu a reunião resumindo as queixas que havia recebido previamente. "Se o governo não permite que o proprietário faça nada com sua terra, que lhe pague então um salário para ficar de braços cruzados tomando conta", propôs o parlamentar.

Os prefeitos traçaram um quadro das dificuldades de seus municípios, que enfrentam muita pobreza e cuja população mora principalmente na zona rural. Sargento Leonardo, prefeito de Serra Azul de Minas, afirmou que parte da população depende do trabalho na Prefeitura e o restante sobrevive dos desmatamentos ilegais, atividade a que se dedicam há 14 anos sem receber orientação e sem contato com a fiscalização. "O povo está desesperado. Os fiscais chegam de forma arbitrária, maltratam trabalhadores humildes que respeitam a autoridade. Precisamos de receber cestas básicas e medicamentos, para evitar que saqueiem os estabelecimentos", disse Sargento Leonardo.

Newton Firmino de Souza, prefeito de Rio Vermelho, falou das filas de desempregados, impedidos de qualquer forma de extrativismo. "Segurança pública não existe em nossa região, mas quando é para reprimir quem está trabalhando, toda hora estão lá. Rio Vermelho faliu, o comércio parou, quem tinha caminhão está vendendo". Souza disse que não há alternativa de sobrevivência e pediu a revogação das medidas. José Augusto Silva Neto, de Santo Antônio do Itambé, disse que é certo buscar o equilíbrio das questões sociais e ambientais, mas que "a fiscalização chegou de forma abrupta. Os pais de família não tiveram tempo de buscar alternativa". Só o prefeito do Serro, Guilherme Simões Neves, tem uma relação melhor com o IEF, a quem propôs uma parceria para reflorestar áreas que podem se tornar auto-sustentáveis. Mesmo assim, pediu que algumas áreas sejam reclassificadas como de cultura, para que os proprietários possam plantar o sustento.

Sindicalista de Rio Vermelho, Zé Ditão, expôs o sentimento dos trabalhadores: "O povo acuado porque não podendo mais nada. Não pode nem roçar para plantar alimento. Não queremos destruir o ambiente, mas não é só o ambiente que merece viver. A gente também tem o direito de tirar a sobrevivência, trabalhando honestamente".

O promotor Fernando Galvão, da Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público, lamentou que o impasse fosse percebido dessa maneira. "Órgão ambiental que cumpre o seu dever não pode ser responsabilizado pela pobreza da região. Estamos aqui para dar apoio à legalidade". No entanto, Galvão ressalvou que a conduta porventura abusiva de fiscais e policiais devia ser investigada e punida.

Feitos os desabafos e as defesas, os deputados e autoridades discutiram alternativas para o desenvolvimento sustentável da região. Esperanças de médio prazo são depositadas no Programa Estrada Real e no desenvolvimento do turismo. Foi sugerido o cultivo comercial da candeia, espécie nativa da região. Também foi sugerido o uso de recursos internacionais do Protocolo de Kioto para regeneração de áreas devastadas e geração de créditos de carbono.

Ao final, o deputado Alencar da Silveira Jr. propôs reuniões no Serro e em Rio Vermelho, para a educação da população e a construção de projetos alternativos junto com a comunidade. Alencar pediu também a humanização das relações do IEF com a comunidade e a revisão das multas consideradas excessivas.



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