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TV Assembleia: 20 anos de política e cidadania
Por: Assessoria de imprensa ALMG 30 de Novembro de 2015 em: Notícias

Em março de 1992, uma avalanche de terra se desprendeu de um aterro em construção em Contagem (Região Metropolitana de Belo Horizonte), atingindo moradores de uma localidade conhecida como Vila Barraginha. O episódio foi o cenário da primeira cobertura externa realizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), por meio de uma produtora que se tornaria, em 1995, a TV Assembleia. Em 30/11/15, a emissora, que foi a primeira TV legislativa do País, completa 20 anos dedicados à cobertura política no Estado, em uma busca constante pela aproximação do cidadão com o Parlamento mineiro.

A TV Assembleia entrou em operação após a publicação da Lei Federal 8.977, de 1995, que regulamentou o serviço de TV a cabo no Brasil. Antes disso, a ALMG já contava com um circuito interno de TV, que transmitia as sessões de Plenário para os gabinetes dos deputados, e com uma produtora de TV, que veiculava nas emissoras comerciais um programa de dois minutos de duração.

O servidor aposentado Márcio Metzker, que foi o primeiro gerente da TV Assembleia e também acompanhou o surgimento da produtora, conta que esse programa veiculado nas TVs comerciais foi inicialmente chamado de “Voto de Fato” e era feito com os equipamentos e a equipe técnica das próprias emissoras. Menos de um ano depois da sua estreia, o programa passou a se chamar “Assembleia Informa”, com o mesmo formato do anterior, mas utilizando equipamentos próprios da ALMG.

Em 1995, a partir da criação oficial da TV Assembleia, a equipe da produtora, composta inicialmente por 12 pessoas, precisou ser expandida para atender à nova lógica de cobertura. “Decidiu-se contratar gente de fora e começamos a administrar uma experiência difícil, que era o pessoal profissional de televisão, externo, e o pessoal da ALMG, que não tinha cultura de televisão”, conta Márcio Metzker.

Segundo ele, poucos meses antes de a TV entrar no ar, uma força-tarefa começou a ser montada para formar uma equipe de profissionais e também equipar tecnicamente a ALMG para receber uma estrutura de televisão - em 1996, um ano após a estreia, o canal já tinha 12 horas de programação diária.

Uma história ligada à redemocratização do País

Para o diretor de Comunicação Institucional da ALMG, Rodrigo Lucena, a existência de uma estrutura de comunicação embrionária e, posteriormente, a criação da TV Assembleia vieram da necessidade de reaproximar a sociedade do Poder Legislativo, após o fim da ditadura militar.

“Com a redemocratização, o Poder Legislativo, que havia perdido suas prerrogativas no passado, voltou a ter algum espaço e queria trazer a população para conhecer o seu trabalho. A TV Assembleia surge em função disso, mas também é resultado da cobrança dos movimentos sociais, que pediram os canais de acesso gratuito a cabo”, avalia Lucena, que se tornou gerente da TV Assembleia em 1998.

A partir de 1997, iniciou-se o processo de interiorização da TV Assembleia. “O sinal foi para o satélite, começaram a abrir as retransmissoras, a TV ganhou outra dimensão, com muito mais visibilidade”, conta Rodrigo Lucena.

Na avaliação do diretor, a expansão relativamente rápida da TV Assembleia aconteceu, em certa medida, pelo fato de o Legislativo precisar fazer a interlocução com a sociedade e a televisão ter se mostrado o caminho mais curto para isso. Segundo ele, os deputados se impressionavam com a repercussão que o trabalho deles no interior começou a tomar a partir da TV Assembleia e, com isso, começaram a demandar investimentos para o canal.

Na era digital - Outra conquista importante foi a transmissão online pelo Portal da Assembleia, implementada em 2007. Em 2009, teve início a migração do sistema analógico para o digital, com ganhos de qualidade de imagem e som e ampliação na grade de programação, de 19 para 24 horas diárias. Já a Rede Legislativa de TV Digital, lançada em 2012, permite que em um único canal de TV aberta o telespectador possa assistir gratuitamente à programação das TVs Assembleia, Câmara dos Deputados, Senado e das câmaras municipais.

“A TV Assembleia conseguiu fazer o mais importante: obteve um canal aberto e a condição de emissora geradora, regularizando assim a situação de grande parte de suas retransmissoras”, avalia o diretor Rodrigo Lucena. Com o desligamento do sinal analógico (previsto para 2016 em Belo Horizonte), a emissora vai estar ao lado das grandes redes na era digital. “Isso é uma conquista histórica: um canal de TV digital exclusivo em Belo Horizonte e no interior do Estado, fazendo multiprogramação com os parceiros e permitindo a expansão da nossa cobertura com baixo custo”, completa Lucena.

Eleições mobilizam equipes em grandes coberturas

Um dos principais marcos na história da TV Assembleia foi a cobertura das eleições de 1998. O servidor aposentado Ramiro Batista, que também foi gerente da emissora, considera essa cobertura o grande divisor de águas na história do canal. Ele conta que a ALMG fez grandes investimentos para sair na frente e atender à demanda por informação em uma época em que a contagem de votos ainda era manual.

“Foi montada uma operação de guerra para comprar equipamentos, ampliar as instalações, contratar os cenários de estúdio, estruturar um programa de apuração de votos e mobilizar toda a ALMG para entregar a informação mais quente possível, na frente das TVs e rádios da Capital. A contratação de alguns profissionais de projeção nacional também deu um ar de profissionalismo, que marcou o momento e definiu o futuro da emissora a partir dali. Mais do que isso, o casamento com o setor de Informática permitiu fazer cruzamentos de dados e antecipar os resultados das eleições. O resultado chamou a atenção de toda a imprensa”, relembra.

Prêmio - Outra iniciativa de destaque foi a produção do documentário “Na Lei ou na Marra: 1964, um combate antes do golpe”, que conquistou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2014. O programa resgatou a história do ataque de milícias lideradas por fazendeiros ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Governador Valadares (Vale do Rio Doce), um episódio pouco conhecido que ocorreu às vésperas do golpe de 1964.

Profissionalização ajuda a definir a qualidade da TV

Uma das profissionais da nova geração é a repórter Fernanda Moura, que chegou à TV Assembleia em 2009. No começo, ela não compreendia bem os detalhes do processo político e de construção das leis, e um dos desafios foi entender essa dinâmica. “Temos que tratar a complexidade das leis e a construção política de forma simples e leve. Tentamos traduzir com responsabilidade a dinâmica legislativa, de forma a motivar as pessoas a participarem desse processo”, explica.

A jornalista também comanda o programa Geração, o primeiro da TV Assembleia voltado para adolescentes. A atração, que estreou em 2011, já recebeu cerca de 600 jovens de 80 escolas públicas de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Até hoje, 99 programas já foram feitos - o de número 100 vai ao ar no início de 2016.

Na opinião de Fernanda Moura, o clima alegre e despojado do programa permite que os jovens ouçam histórias inspiradoras de personalidades da música, dança, teatro, fotografia e demais áreas ligadas à cena cultural. A iniciativa, na avaliação da jornalista, motiva o jovem, tornando-o mais participativo e trazendo-o para o universo de uma casa política.

Rotina - Diariamente, parte das equipes de produção, reportagem e edição se reúne para discutir a pauta dos telejornais da emissora, bem como os temas que devem ser tratados com mais profundidade. “Frequentemente nos perguntamos como determinado tema deve ser tratado por uma emissora legislativa ou o que as outras emissoras estão deixando de informar, mas que é essencial para o cidadão”, conta a gerente-geral de Rádio e Televisão, Patrícia Porto.

Na avaliação dela, essas preocupações estão relacionadas ao compromisso da TV Assembleia de levar ao cidadão informação completa sobre o que acontece na Casa, explicando como os temas discutidos têm relação com a sua vida, sem excluir desse processo o espaço para críticas e reflexões. “Há espaço para o contraditório, para a opinião dissidente, para a variedade de vozes e atores que envolve a discussão de leis e dos assuntos que interessam ao Estado”, explica.

TVs legislativas oferecem contraponto à mídia tradicional

A mídia tradicional tende a dar mais destaque aos erros do que aos acertos da atividade legislativa, e ter um canal de TV para mostrar o lado positivo desse trabalho é fundamental, na avaliação do cientista político Malco Camargos. Ele acredita que um dos pontos fortes da TV Assembleia é a liberdade para que os diversos atores da arena política possam expressar suas opiniões.

“Assim como no Plenário há diversos matizes ideológicos, na programação da emissora também é possível ver essa diversidade. Um cidadão ávido por informações vai encontrar na TV Assembleia opiniões diversas sobre temas relevantes. Quanto mais bem informado for o cidadão, melhor será sua contribuição nos debates do dia a dia e melhor será sua tomada de decisão nas eleições”, conclui.

Para a jornalista Letícia Renault, autora do livro “Comunicação e política nos canais de televisão do Poder Legislativo no Brasil”, as TVs legislativas são um contraponto à mídia tradicional, que nem sempre opera a partir de uma lógica de interesse público, uma vez que obedecem a interesses privados. “A sociedade deve buscar alternativas de informação capazes de gerar pontos de vista diversificados desse sistema”, escreve.

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